terça-feira, 26 de maio de 2009

A nova era da comunicação

Por volta do ano 700 a.C. ocorreu uma importante invenção; o alfabeto grego, que preencheu a lacuna entre o discurso oral e escrito. Entretanto, essa nova ordem alfabética, embora tenha possibilitado a infra-estrutura para a comunicação cumulativa, baseada em conhecimento, separava a comunicação escrita do sistema audiovisual de símbolos e percepções. Somente no século XX, muito após o início da Galáxia Gutenberg, na qual destacava-se o livro impresso, a cultura audiovisual teve sua revanche histórica, em primeiro lugar com o filme e o rádio, depois com a televisão, que a partir de sua difusão criou uma nova Galáxia de comunicação, a ‘‘Galáxia McLuhan’’, (Castells, 1942, p.355), que superou a influência da comunicação escrita para a maioria das pessoas. Essas mídias, segundo menciona Manuel Castells, são importantíssimas quanto a formação da cultura, já que o homem não vê a verdadeira realidade, porém a percebe por meio das nossas linguagens, que são nossas mídias.
Passados 2.700 anos do início do processo citado acima, nos deparamos com uma transformação tecnológica de dimensões históricas similares; a integração de vários modos de comunicação em uma rede interativa. Pela primeira vez na história, são integradas no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e audiovisual da comunicação humana.
Com a convergência de mídias, a sociedade se reconfigura e adquire formato mais ágil, dinâmico e veloz na transmissão das informações. Desfaz-se o sentido único e linear entre emissor e receptor e emerge um sistema de interação e comunicação marcado não mais por um único emissor da mensagem, mas por uma ampla gama de idéias que geram conteúdos. A produção para a massa é substituída pela produção da massa, podendo qualquer um tornar-se emissor da mensagem, muitas vezes sem censura, havendo assim uma redefinição de conceitos e uma crise da figura do autor, o que muda radicalmente o conceito de propriedade intelectual.
Em razão de transformações de longo prazo operadas em grande medida pela internet, diminui o número de pessoas que lêem jornais impressos. A facilidade de encontrar a notícia do interesse do leitor bem como a possibilidade de acompanhamento da informação atrai as pessoas para a internet, em detrimento das mídias impressas, marcadas pelo atraso e por métodos obsoletos de produção até chegar à difusão da notícia. Os jornais impressos, antes um marco da era moderna, apresentam-se em crise. O New York Times, jornal norte-americano, pode ser citado como exemplo ilustrativo desses argumentos. A empresa atualmente além de sofrer com a evasão de leitores e da receita publicitária para a internet, sofre os reflexos da crise financeira. Como saída para tal problemática, aposta na digitalização e difusão de seu material através dos livros eletrônicos. As empresas, assim como as pessoas adaptam a tecnologia às suas necessidades.
Esse processo de transição culmina em diversas discussões, dentre elas a de Paul Starr, Prêmio Pulitzer e professor de sociologia em Princeton, e Steven Johnson, um dos pioneiros da internet, travam um debate acirrado sobre o futuro do jornalismo e o acesso à informação. Johnson diz ‘‘mesmo com os jornais em crise, estamos assistindo a inovações sem precedentes e a novos e instigantes modelos de criação de notícias’’.
As mudanças, provenientes da nova era da comunicação também abrangem outras indústrias, a exemplo de indústrias que trabalham com som e imagem. Às vendas de CDS e DVDS diminuem continuadamente. Todavia, aumenta-se o número de downloads de arquivos da ‘‘Rede de Alcance Mundial’’ principalmente músicas e filmes. Agora, todas as formas de mídia contribuem para o mundo digital e virtual.
O sistema de confluência de mídias, ou multimídia é um sistema eletrônico de comunicação, caracterizado pelo seu alcance global, integração de todos os meios de comunicação e interatividade potencial, está mudando e mudará pra sempre a nossa cultura. Ademais, tal sistema estende o âmbito da comunicação eletrônica para todas as esferas da vida: de casa a trabalho, de escolas a hospitais, de viagens a entretenimento. Também não se fala mais de comunicação mediada por computadores, mas de interação mediada por computadores, ratificando o fato de que hoje não temos mais leitores ou expectadores, temos interatores e navegadores.
A partir dessa análise podemos associá-la com o vídeo ‘‘EPIC’’, que faz um retrospecto da história da internet e supõe como ela estará nos anos seguintes até o ano 2015. O vídeo menciona as já certas hipóteses de que haverá uma infinidade de variedades, possibilidades e extensão de caráter informacional, em que todas as pessoas, de alguma forma, contribuirão para um jornalismo mais dinâmico, diferente da imprensa dos dias atuais.
O novo sistema de comunicação também transforma radicalmente as dimensões fundamentais da vida humana; o espaço e o tempo. Localidades ficam despojadas de seu sentido geográfico, histórico, cultural, e reintegram-se em redes funcionais. O tempo adquire uma nova configuração, sendo desconsiderado nesse novo sistema comunicacional, uma vez que passado, presente e futuro podem interagir entre si na mensagem.
Sem dúvidas, a sociedade contemporânea sofre transformações intensas e significativas em ritmo acelerado, remodelando as relações intersociais, interpessoais e interculturais. A cada dia, instante, novas formas técnicas reconfiguram e estabelecem novos caminhos e desafios, conceitos são reconsiderados em um espaço de tempo cada vez mais curto. Agora, mais que nunca é preciso estar com olhos novos para o novo, pescar os sentidos do mundo através das hipermídias, adaptando-se a elas, só nos restando constatar a concretização das previsões dos visionários da tecnologia.

Érica Latiff


Referências Bibliográficas:
Vídeo EPIC: http://www.youtube.com/watch?v=Hr8e3j2XglA
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede; tradução: Roneide Venâncio Majer – São Paulo: Paz e terra, 1999.
Debate entre Steven Johnson e Paul Starr; tradução Clara Allain - abril de 2009.